domingo, 11 de julho de 2010

Vantagens e riscos de uma dieta vegetariana

A dieta ovolactovegetariana contém todos os alimentos da dieta omnívora com excepção dos produtos cárneos e do pescado.

Nunca se ouviu falar tanto de dieta vegetariana como agora. O que para muitas pessoas tem a ver com razões culturais, religiosas, filosóficas ou mesmo de saúde, para outras é uma questão de moda. E para outras ainda, sobretudo os adolescentes, um excelente mote de discussão e atrito com os pais, numa área que lhes é, ou aparenta ser, tão sensível. Por isso, de vez em quando, aparecem-me na consulta mães angustiadas porque os seus filhos decidiram enveredar por uma alimentação vegetariana. É justa esta preocupação? Depende do tipo de alimentação vegetariana que se propõem fazer.

Se é vegetarianismo puro, também chamado de veganismo, que exclui qualquer produto ou subproduto de origem animal, eu diria que é não só preocupante para os adolescentes, como para crianças, grávidas e mesmo adultos, uma vez que é uma dieta que pode resultar em anemia perniciosa ou alterações neurológicas, se não for complementada com suplementos de vitamina B12. No meu entender, uma dieta que tem que recorrer à farmácia ou à ervanária para obter produtos que não se encontram nos alimentos é tudo menos natural, uma vez que fora das cidades, onde estes produtos não são comercializados, a alimentação será seguramente deficitária.


Por outro lado, a dieta ovolactovegetariana, muito em voga sobretudo entre os defensores dos direitos dos animais, que inclui todos os produtos de origem vegetal, produtos lácteos e ovos é uma dieta bem mais saudável do que a geralmente praticada pelos pais, onde se abusa dos produtos cárneos (tão responsáveis pela elevada incidência de cancro de cólon em Portugal), gorduras saturadas e cereais refinados, a par do reduzido consumo de produtos hortofrutícolas com as sabidas consequências para os sistemas digestivo ou cardiovascular.
A soja é obrigatória em regimes vegetarianos?Com um teor de proteínas superior ao das outras leguminosas como o grão-de-bico ou o feijão e mesmo ao da carne, não contendo colesterol e apresentando vitaminas e minerais em quantidades superiores aos dos outros alimentos deste grupo, é um alimento aconselhável para substituir a carne ou o pescado. A sua riqueza em isoflavonas parece ter algum papel (embora, quanto a isto, os estudos não sejam completamente conclusivos) no alívio dos sinais e sintomas da menopausa.

No entanto, é bom referir que não há só vantagens no seu consumo. Na realidade, a maior parte da soja que é comercializada, além de ser maioritariamente obtida a partir de grãos geneticamente modificados, sofre complexos processos industriais que obrigam a que o produto final seja suplementado para suprir as perdas industriais. Ora o que se sabe é que a adição destas substâncias, como cálcio ou vitaminas por exemplo, não tem a mesma biodisponibilidade, ou seja, o mesmo aproveitamento orgânico, que o produto original. E no que respeita aos organismos geneticamente modificados (transgénicos), há que ter muita cautela no seu consumo pois, sendo recentes, não estão ainda devidamente estudados os seus efeitos na saúde humana.

Para já, tudo o que se sabe é que a única vantagem que apresentam é para os produtores e não para os consumidores... Por isso, quando comprar soja, prefira a "biológica" que dá maiores garantias de não ser geneticamente modificada. Se vai consumir soja pela primeira vez, comece por uma pequena quantidade, pois além de poder provocar flatulência, pode desencadear uma reacção alérgica em quem é sensível.
A dieta vegetariana emagrece?A dieta ovolactovegetariana contém todos os alimentos da dieta omnívora com excepção dos produtos cárneos e do pescado. Ora, a maioria das pessoas diz que engorda porque come muito pão, fritos, bolos, etc., e não porque come muita carne ou muito peixe. Então porque emagreceria apenas por excluir o seu consumo?

Na realidade, o que faz engordar é o consumo excessivo de calorias, venham elas de onde vierem: proteínas, hidratos de carbono ou gorduras que são os únicos nutrientes que fornecem energia. Se comermos almôndegas vegetarianas fritas (como já comi num restaurante vegetariano) acompanhadas de arroz cujo refogado foi feito com muita gordura e um monte de salada "regada" com muito azeite, bem podemos esperar por um milagre se a ideia era perder peso
Embora na maioria das vezes nos esqueçamos disso, o Homem faz parte do ecossistema terrestre e de uma cadeia alimentar que insiste em subverter.

Tal como prometi, o artigo de hoje volta a abordar a alimentação vegetariana.

Embora não seja especialista na matéria, uma vez que a minha formação académica bem como as bases de pensamento que fui adquirindo ao longo do tempo fundamentam toda a minha actuação profissional com base na alimentação mediterrânea (ver artigo A dieta mais saudável do mundo), contava hoje fazer referência a algumas combinações alimentares que permitem, numa dieta ovolactovegetariana, obter todos os nutrientes de que o organismo precisa sem ter que se recorrer a suplementos dietéticos.

Tendo, no entanto, chegado uma carta aberta do Centro Vegetariano, disponível nos comentários do artigo anterior "Vantagens e riscos de uma dieta vegetariana", em que era solicitado que se colmatassem as lacunas alegadamente evidenciadas nesse artigo, não poderia deixar de usar este mesmo espaço para o fazer.

Em primeiro lugar, sou contra toda e qualquer espécie de fundamentalismo, seja religioso, político ou mesmo alimentar, que me dá a faculdade de, com facilidade e pensamento próprio, aproveitar ou rejeitar o que de bom ou mau é veiculado em cada "filosofia". De resto, essa coerência de pensamento tem-me permitido resistir, de forma quase estóica nos tempos que correm, ao constante acenar de "notas" de vários sectores (publicidade, clínicas de estética ou ervanárias, por exemplo), para que ajudasse a impingir às pessoas produtos ou tratamentos nos quais não acredito e assim contribuir para um negócio que muitos consideram mover quantias semelhantes às da indústria petrolífera. Na minha actividade profissional estão incluídas duas associações mutualistas cujos sócios são, na sua maioria, pessoas de fracos recursos financeiros. Como tal, sempre que prescrevo uma dieta, entre muitos outros factores, tenho que ter essa condição em conta. Embora na maioria das vezes nos esqueçamos disso, o Homem faz parte do ecossistema terrestre e de uma cadeia alimentar que insiste em subverter. Por isso, como qualquer ser vivo, é na natureza que tem de obter todos as substâncias necessárias à sua sobrevivência porque foi assim que sempre sobreviveu até ao aparecimento da indústria alimentar e farmacêutica. A afirmação do Centro Vegetariano de que "esse tipo de alimentos ou suplementos já não estão apenas acessíveis nas grandes cidades - até em lojas online se podem encontrar", parece de alguém que desconhece o Portugal profundo e que se habituou a viver entre paredes de betão. Não fiquei por isso muito surpreendida, quando localizei o site desta loja e verifiquei que efectivamente era mais um centro de vendas online de suplementos alimentares como a vitamina B12 e outros "produtos naturais" e em que o aconselhamento alimentar se resume à comercialização de produtos supostamente indispensáveis à saúde, em grande parte dos casos importados, e que não fazem parte da alimentação tradicional. Recorrer a este tipo de produtos representa, para além de uma considerável ginástica financeira, uma despromoção dos recursos locais e nacionais.

Gostaria também de sublinhar que nunca disse que o vegetarianismo era uma moda, mas sim que era uma moda para algumas pessoas. Há 16 anos que na minha consulta tenho contacto diário com pessoas e não são estatísticas ou estudos de quem quer que seja que me fazem deixar de ver cada paciente como uma entidade única e individualizada. Aquilo que tenho constatado é que muitas vezes os jovens mudam radicalmente os seus hábitos alimentares como meio de requererem a atenção dos pais, independentemente de poderem estar até a fazer escolhas mais saudáveis.

Relativamente à soja, que raramente encontramos na sua forma de semente, a não ser em casas "especializadas", e uma vez que a legislação parece começar agora a ser cumprida e fiscalizada, desde que observemos os rótulos e estes não refiram que é geneticamente modificada, podemos comprá-la com alguma segurança em qualquer supermercado, prescindindo da biológica que é seguramente mais cara.

Portugal produz todos os alimentos necessários a uma alimentação saudável sem que seja preciso recorrer a produtos sintéticos para colmatar quaisquer lacunas. Mesmo que a dieta seja ovolactovegetariana! Pecamos normalmente pelo excesso de alguns alimentos como a carne o pelo défice de outros como produtos hortícolas, fruta, leguminosas e frutos secos, por exemplo. Uma alimentação racional, baseada na pirâmide mediterrânea e com base nos recursos locais é, além de saudável, muito mais barata, factor a ter em conta sobretudo em épocas de crise...

PAULA VELOSO Nutricionista e autora de Dietas sem Dieta e Dieta sem Castigo



Nutricionista explica as vantagens e desvantagens de se adotar uma dieta vegetariana



Por Ana Ligia Noale

A opção de ser vegetariano precisa ser acompanhada da descoberta de novos sabores de fontes alternativas de nutrientes vitais

Soja
Muitas pessoas não gostam de carnes ou simplesmente optam por deixar de ingerir o alimento. Mas será que vale a pena trocar o cardápio com carne por um vegetariano? Pesquisas demonstram que dietas com maiores quantidades de proteínas vegetais trazem mais benefícios para a saúde quando comparadas com dietas à base de proteínas animais. "Muitos estudos indicam que a prevalência de doenças crônicas é menor entre os vegetarianos", afirma a nutricionista Maria Angela Marcondes.

A nutricionista alerta que, ao se adotar um cardápio vegetariano, a pessoa precisa prestar muita atenção na quantidade de proteína e calorias ingerida. "A opção de ser vegetariano precisa ser acompanhada também da necessidade de se descobrirem novos sabores de fontes alternativas desses nutrientes vitais e buscar orientações de uma nutricionista para uma dieta equilibrada. Caso contrário, a falta desses nutrientes acaba prejudicando o equilíbrio do organismo e acarretando desnutrição proteica e anemia", acrescenta.

De acordo com Maria Angela, as proteínas de origem vegetal devem aparecer no cardápio com maior frequência quando se adota uma postura vegetariana. "Alimentos como soja, quinua, amaranto, lentilha, feijões e as leguminosas fornecem isoladamente, ou combinadas entre si, as quantidades dietéticas recomendadas de proteínas e minerais importantes para a manutenção das funções vitais", diz a nutricionista.

Maria Angela explica que quem pratica atividade física também pode adotar uma dieta vegetariana. "O importante é associar o consumo de proteínas vegetais com frutas, verduras, legumes, cereais integrais, leguminosas e oleaginosas. Assim, o corpo estará bem nutrido e com as defesas em alta para a prática de exercícios físicos", finaliza.

Alimentos que fornecem quantidades dietéticas recomendadas de proteína e minerais importantes para a manutenção das funções vitais:
Quinua
Soja - é uma excelente fonte alternativa às proteínas animais. Além de fonte proteica completa, possui também outros componentes benéficos à saúde como: isoflavonas, vitaminas do complexo B, fibras e minerais. Atua no combate de doenças cardiovasculares e câncer.

Quinua - seu teor proteico é maior que de outros cereais, contém 16 aminoácidos essenciais, rico em zinco, magnésio, potássio, ferro e manganês. Auxilia no controle das doenças cardiovasculares e aumenta a imunidade.

Amaranto - proteína de alto valor biológico, melhora a qualidade do sangue fornecendo mais vitalidade e energia, e também é uma fonte alternativa de cálcio.

Oleaginosas e sementes - nozes, castanhas, amêndoas, semente de gergelim, girassol, abóbora e outros são excelentes fontes de proteínas, gorduras insaturadas, fibras e substâncias antioxidantes.

Leguminosas - feijões em geral, ervilha seca, lentilha, grão-de-bico, soja e outras são ótimas fontes de carboidratos, proteínas, fitoquímicos, fibras solúveis, vitaminas do complexo B, e minerais, como potássio e ferro.

Fonte: 
Jornal Cidade

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