À semelhança do bacalhau, o café é mais um alimento que é nosso sem o ser, entrando igualmente na categoria de “healthy guilty pleasure” devido à desconfiança clássica com que era olhado, muito em parte pela sua recorrente associação ao consumo de tabaco e inactividade física. Hoje o café está na moda e é bom que continue a estar, uma vez que a complexa mistura de mais de mil compostos que o constituem, incluindo vitaminas, minerais, compostos fenólicos e alcalóides, tem equivalência no número de benefícios que nos proporcionam.
Como no café não são só coisas boas, comecemos pelas más notícias que derivam do seu consumo excessivo e que passam pelo aumento dos níveis de pressão arterial e homocisteína, ambos factores de risco para as doenças cardiovasculares. O café não filtrado possui igualmente diterpenos capazes de aumentar moderadamente os níveis de colesterol, embora, quer pelo seu consumo caseiro filtrado, quer pelo escasso volume que possui um café expresso, os níveis de ingestão destes compostos não sejam preocupantes. Preocupante poderá ser a sua ingestão em excesso em crianças e adolescentes. No entanto, é bom que o “horror” com que se imagina uma criança a tomar café tenha igualmente paralelo ante o consumo de bebidas energéticas e refrigerantes de cola, chá e guaraná por terem igualmente níveis razoáveis de cafeína.
Dobrado o cabo das poucas tormentas do café, falemos do seu lado solar quando consumido em quantidades moderadas (entenda-se 3 – 4 cafés expresso por dia). O café faz parte do despertar de uma grande parte da população que não consegue “pensar” até tomar o primeiro café do dia. E, de facto, o café tem essa capacidade de aumentar o estado de alerta e a velocidade de processamento de informação que se traduz numa melhoria da nossa performance laboral e bem-estar. Existem já lotes no mercado que aproveitam inclusive a película exterior do grão de café, a pele de prata, pelo seu teor em fibra e antioxidantes e eventualmente função prebiótica. O café, já de si riquíssimo em compostos fenólicos, para além destes efeitos a curto prazo, tem sido também associado à prevenção de inúmeras doenças crónicas, tais como diabetes tipo 2, Parkinson e doença hepática (cirrose e carcinoma hepatocelular).
Nas quantidades moderadas, pode-se então dizer que o principal problema do café não está em sim mesmo, mas sim no pacotinho de açúcar que o acompanha e que nos brinda sempre com 30 desnecessárias quilocalorias que se multiplicam pelo número de cafés diários. Deste modo, para cuidar da sua saúde e para o apreciar devidamente, beba café, mas sem açúcar.
Por Pedro Carvalho, nutricionista
*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
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