Sendo igualmente produzida na Madeira, foi a produção de batata-doce de Aljezur recentemente classificada como produto de indicação geográfica protegida - o que de resto é o corolário de uma íntima ligação que tem prelúdio na própria conquista desta cidade aos mouros. Reza então a lenda que a razão da tenacidade e robustez das nossas tropas na invasão e conquista do castelo de Aljezur teve origem numa poção vitamínica mágica: nem mais nem menos do que a hoje muito badalada feijoada de batata-doce de Aljezur.
A batata-doce é assim uma autêntica ode à vitamina A, sendo apenas superada pela cenoura no que a produtos de origem vegetal diz respeito, e com a vantagem de possuir ainda níveis superiores de vitamina E, C e Magnésio. Sendo certo que a quantidade de hidratos de carbono que possui coloca a batata-doce na dimensão nutricional da batata, arroz e massas alimentícias, é também uma realidade que quer na quantidade de fibra, quer nas vitaminas lipossolúveis e minerais, a batata-doce ganha “aos pontos” aos seus congéneres “farináceos”. Sendo muita desta quantidade astronómica de vitamina A proveniente de carotenos, a sua acção sinérgica com as antocianinas, para além de conferem à batata-doce uma fantástica tonalidade alaranjada e púrpura, tornam-na num alimento com um potencial anti-inflamatório e antioxidante bastante significativo. Enquadra-se assim perfeitamente nesta fase inicial do ano onde para muitos, o objectivo primordial é recuperar dos abusos cometidos no Natal e Réveillon.
Parece quase um paradoxo a riqueza da batata-doce em vitaminas lipossolúveis (A e E), e em simultâneo apresentar 0% de gordura na sua composição. Será então importante que a um processo de confecção que preserve as suas propriedades (cozer a vapor é uma excelente opção) se alie a adição de uma pequena quantidade de gordura (como um azeite virgem extra nacional) que nos disponibilize toda esta exuberância vitamínica.
Se 2012 se afigura como um ano especialmente difícil, olhar para dentro e descobrir o que temos de melhor será sempre uma boa alternativa. Existirão sempre casos a merecer uma atenção redobrada e a batata-doce é um deles.
Por Pedro Carvalho, nutricionista
Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
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